segunda-feira, 11 de agosto de 2014

LAVA JATO

Ex-contadora detalha esquema de Youssef à Polícia Federal
O doleiro teria movimentado dinheiro de prefeituras. Uma das cidades citadas foi PARANAGUÁ. Meire Bonfim da Silva Poza falou ainda de "malas de dinheiro" para políticos

Em dois depoimentos à Polícia Federal, Meire Bonfim da Silva Poza - ex-contadora do doleiro Alberto Youssef - resolveu colaborar com as investigações da Operação Lava Jato. Ela afirmou que Youssef movimentava grandes quantias em dinheiro vivo "sem justificativa contábil". A mulher revelou como o doleiro construiu um império, inclusive com participação na rede hoteleira, e contou que o esquema avançou sobre os caixas de prefeituras e Estados, que dirigiam recursos municipais para fundos operados por ele. A contadora citou Paranaguá, no Litoral do Paraná, mas não foi tornado público o período em que a movimentação de dinheiro teria ocorrido, o volume de recurso que passou na mão do doleiro, nem qual era o prefeito na época. Outras cidades citadas nos depoimentos foram Cuiabá (MT), Petrolina (PE), Hortolândia (SP), Holambra (SP) e o estado de Tocantins.
Nos dois depoimentos, Meire Poza detalhou suas funções na GFD Investimentos, empresa de fachada de Youssef, e relatou as operações de empreiteiras. Youssef está preso desde março. Ela depôs pela primeira vez no dia 23 de julho. Dois dias depois, retornou à PF e disse estar disposta a colaborar com as investigações alegando que não participou de esquema criminoso. Ela relata que em julho de 2011 lhe pediram que elaborasse um contrato de serviços com uma construtora, sendo que "o objeto que deveria constar do contrato era o estudo de viabilidade de plataformas de petróleo, atividade estranha à GFD".
Parlamentares negam conhecer ex-contadora de Youssef
Os políticos citados pela contadora do doleiro Alberto Youssef como participantes do suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, que movimentou volume estimado em R$ 10 bilhões, se esquivam das denúncias com um argumento semelhante: falta de provas. Todos buscam alegações desse tipo para desmentir a reportagem da revista Veja.
Citado pela contadora Meire Poza em depoimento na Polícia Federal, por ter, segundo ela, enviado um assessor para negociar a arrecadação de dinheiro para pagamento de dívidas de campanha, o deputado petista Cândido Vaccarezza, diz que a matéria "é furada". "Eles dizem que eu tenho um contato com o Alberto Youssef e dizem que um assessor meu, sem dar o nome desse assessor, procurou essa senhora que eu não sei quem é. Então, é uma matéria furada. Quem foi que procurou? É uma falta de responsabilidade alguém publicar uma matéria dessa. Primeiro, não conheço a pessoa (Meire). Segundo, nenhum assessor nunca procurou essa pessoa. Terceiro, eu não tive dívida de campanha", afirmou o deputado, por telefone.
A mesma linha de defesa foi adotada pelo ex-ministro Mário Negromonte, que renunciou este ano ao mandato de deputado federal pelo PP baiano para ocupar um cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia. "Não conheço essa moça. Não procede o que ela está dizendo", disse o ex-parlamentar. "Sobre a minha pessoa, ela jamais pode citar meu nome em nada. O juiz Sérgio Moura, que está apurando o caso, nunca citou meu nome em nada. Não tem denúncia nenhuma da PF, do MP, nada. Não tem telefonema meu, não tem mensagem, não tem depósito, nada. Repudio veementemente a declaração da contadora que eu nem sei quem é." Negromonte disse ainda que conversou com seu irmão, Adarico, também citado pela contadora, que negou a acusação.
Também citado pela contadora como um dos beneficiários do esquema de Youssef, de quem teria recebido um depósito de R$ 50 mil, o ex-presidente e senador pelo PTB de Alagoas Fernando Collor desligou o telefone sem responder às perguntas. "Muito prazer em falar com você. É uma alegria enorme! Obrigado", disse, antes de desligar o aparelho. À revista Veja, Meire Poza afirmou que Youssef depositara o dinheiro na conta do senador a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos ex-assessor de Collor "também envolvido com a quadrilha".
A contadora acusou também o deputado André Vargas, que exercia mandato pelo PT, de ter ajudado Youssef a lavar R$ 2,4 milhões. Em troca, teria recebido o frete de um jatinho, no valor de R$ 115 mil, para suas férias na Paraíba. Por meio de seu advogado, Michel Saliba, Vargas negou as acusações. "Ele nega veementemente ter recebido a viagem. Não foi em troca de nada. E muito menos ele lavou dinheiro. Essa é uma acusação absurda", disse Saliba. "Que fossem R$ 100, ele nega veementemente". O mesmo, de acordo com o advogado, vale para a acusação relacionada aos fundos de pensão. "Ele nega."
Em nota, a Funcef - fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal - voltou a admitir que o diretor do fundo, Carlos Borges, recebeu o doleiro em março deste ano a pedido do deputado Vargas. No encontro, o Youssef de fato apresentou uma proposta à Funcef, mas o projeto teria sido "prontamente descartado" pelo fundo por não se adequar à sua política de investimentos. De acordo com a nota, que já tinha sido divulgada em abril, Borges não conhecia Youssef antes da reunião, e a Funcef alega que "faz parte da rotina e atribuições dos diretores, gestores e técnicos da Fundação atender gestores, empresários, consultores e técnicos de empresas e bancos para apresentarem seu portfólio de produtos e projetos para análises e possíveis parcerias". O fundo de pensão reitera que não tem qualquer negócio e nem avalia qualquer projeto com empresas vinculadas ao doleiro.
Pozaa teria afirmado que, em uma ocasião, foi chamada pelo doleiro para providenciar notas frias para lavar R$ 5 milhões que teriam supostamente entrado no PP. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional da legenda desde 11 de abril de 2013, disse que os fatos relatados são anteriores à sua gestão, mas que seu antecessor, senador Francisco Dornelles (PP-RJ), "nunca na vida sofreu nenhum questionamento, nem suposição contra ele". "Eu tenho certeza de que, se falarem do PP, você não vai ver em minuto nenhuma relação do Dornelles com essa figura Alberto Youssef", disse Nogueira. Ele afirmou ainda que defende a investigação do caso, mas que a sigla não pode conduzir a apuração e espera que o Ministério Público, a Polícia Federal e a CPI possam tirar conclusões sobre a história.
Procurados, PMDB e PT não quiseram se manifestar.
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Segundo Meire, a GFD nada fez e apenas emitiu uma nota de serviços no valor de R$ 300 mil. A simulação se repetiu outras três vezes, com a empresa de Youssef fornecendo notas frias para a empreiteira e embolsando R$ 2,32 milhões. As informações foram publicadas neste sábado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Malas de dinheiro
Ex-contadora de Alberto Youssef afirmou ainda à Polícia Federal que circulavam com o doleiro "malas e malas de dinheiro" em esquema de lavagem supostamente utilizado por políticos do PT, PMDB e PP, de acordo com reportagem da revista Veja deste final de semana. Segundo ela, as malas de dinheiro saíram da sede de pelo menos três "grandes empreiteiras sendo embarcadas em aviões e entregues às mãos de políticos". Ela afirma, em entrevista à revista, que Youssef se ocupava de fortunas vindas de paraísos fiscais e da sua distribuição aos integrantes da lista de beneficiários. Segundo a ex-contadora, encabeçavam a lista cinco parlamentares, que recebiam pagamentos em dinheiro vivo diretamente do doleiro ou por depósitos bancários que ela mesma fazia.
Conforme a revista, dois dos integrantes da lista de Youssef respondem a processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados: André Vargas (ex-PT) e Luiz Argôlo (ex-PP). Meire afirma ainda que o doleiro teria depositado R$ 50 mil na conta do senador Fernando Collor e que Cândido Vaccarezza (PT-SP) teria contado com a ajuda de Youssef para quitar dívidas de campanha.
Ainda de acordo com a entrevista, um dos "botes" mais ousados do doleiro teria como alvo as prefeituras do PT, e que ele pagaria propina de 10% a cada prefeito que topasse investir em um fundo de investimento criado por ele. A contadora disse também que André Vargas estaria empenhado em conseguir que dois fundos de pensão, o Postalis, dos Correios, e a Funcef, da Caixa Econômica Federal, colocassem R$ 50 milhões em um dos projetos de Youssef, que teria tratado do tema até com o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Segundo ela, seu ex-chefe tirava a maior parte de seus lucros do PP, principalmente envolvendo transações da Petrobras. As empreiteiras que prestavam serviços à estatal protagonizavam os negócios. "Uma parte dos recursos que chegavam da OAS era para o caixa dois político", disse na reportagem. Ela contou que o doleiro foi à sede da empresa para entregar uma mala: "Eu tomei um susto, nunca tinha visto tanto dinheiro junto".
Ainda de acordo com Meire, a Camargo Corrêa estaria envolvida com a atividade do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Também citou a Mendes Júnior, que teria pago R$ 2,6 milhões à GFD Investimentos, empresa de fachada de Youssef, a título de "consultoria sobre a viabilidade de plataformas de petróleo". "A GDF só tinha que fornecer os contratos", afirmou na reportagem.
PPS pedirá que CPI mista da Petrobras chame contadora de Youssef
O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), afirmou que protocolará na CPI mista da Petrobras um pedido de convocação de Meire Bonfim da Silva Poza, contadora do doleiro Alberto Youssef. O depoimento dela à Polícia Federal é considerado como uma das principais provas contra as empreiteiras que estão sendo investigadas sob suspeita de superfaturarem contratos já prevendo retirar a propina do valor adicional.
O requerimento do líder do PPS, que deve ser apresentado na próxima segunda-feira (11), afirma que a presença da contadora na CPI mista da Petrobas é "essencial para os trabalhos da comissão". "Parece que esta mulher conheceu, como poucos, a arquitetura e a operação do sofisticado esquema de lavagem de dinheiro que atingiu o montante de R$ 10 bilhões. Também chama a atenção dos nomes por ela citados de parlamentares federais. Isto tudo precisa ser investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito", afirmou Bueno.
A contadora também cita o caso de uma empreiteira, integrante de um consórcio que fez obras na refinaria da Petrobras em Paulínia (SP), pelas quais recebeu pouco mais de R$ 1 bilhão. A empreiteira pagou R$ 3,8 milhões à GFD Investimentos, empresa de fachada do doleiro que oferecia consultorias. O Ministério Público Federal considera que os R$ 3,8 milhões ficaram com Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e com o doleiro.
O parlamentar disse que irá conversar com os líderes do DEM e do PSDB sobre outras iniciativas que a oposição pode tomar também em conjunto. Bueno também pretende "reforçar na CPMI o pedido para votar os requerimentos de quebra de sigilos das empreiteiras citadas no caso".
fonte: gazetadopovo.com.br

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