segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Fiéis celebram missa em ruínas da igreja mais antiga do Paraná.


A igreja de Nossa Senhora das Mercês foi construída em 1677 na Ilha da Cotinga, no Litoral paranaense. Hoje, restam apenas as ruínas do templo

No ponto mais alto da Ilha da Cotinga, no Litoral do Paraná, está localizada a Ermida de Nossa Senhora das Mercês, a primeira igreja Católica construída no estado do Paraná, em 1677. Este patrimônio histórico do estado está abandonado pelo poder público há 14 anos, desde a última reforma na comemoração dos 500 anos do descobrimento do Brasil.

Sem teto, sem janelas, o que sobrou foram as ruínas da igreja, o que foi suficiente para o Padre Bino, pároco da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, realizar uma missa campal na manhã deste domingo (19), com a participação de quase 200 fieis. O número seria maior, se todos que foram a Ilha da Cotinga conseguissem subir os 365 degraus que levam até o local da igreja.

Aos 74 anos, Conceição de Paula, moradora da Ilha dos Valadares queria muito participar da missa, mas não conseguiu subir os degraus. Ela não desistiu. E contou com o esforça do marisqueiro Darci de Paula, marido de Conceição, que a levou nas costas em todo trajeto íngreme. “Somos devotos de Nossa Senhora dos Navegantes, que sempre nos protegeu no Mar. Eu fiz esse esforço porque queria muito que a Conceição participasse desta missa”, disse Darci.

Foi uma romaria. Quem conseguiu vencer o obstáculo, ouviu o sermão do Padre Bino, cânticos da igreja e músicas indígenas. Na missa, o padre rezou pelos descendentes dos escravos que desbravaram aquele local e construíram o templo há mais de 350 anos. “Foi muito bom celebrar a Deus em um lugar tão importante. Esta igreja precisa ser restaurada, faz parte da história deste povo”, disse o Padre Bino. Com essa atitude a comunidade quer que as autoridades deem atenção à reforma naquela Igreja, que sempre foi ponto turístico da região.

Existe um projeto encaminhado pela Prefeitura de Paranaguá ao Ministério do Turismo no valor de R$1,2 milhões com o objetivo de reformar a igreja e fomentar o turismo. A Prefeitura informou que efetuou cadastro junto ao Ministério do Turismo para receber verba e que para obtenção dos recursos o município também deve ter certidão negativa de débitos junto aos órgãos fiscalizadores da administração pública. O município aguarda um retorno do órgão sobre o pedido.

Para o historiador Florindo Wistuba existe falta de vontade política de resolver algumas questões importantes para a cidade de Paranaguá. “Verba para reconstrução existe e porque não fazem então. Vejo como falta de interesse na preservação do nosso patrimônio”, disse Wistuba. “Essa igreja ela atendia os primeiros colonos que aqui chegaram, vindo da Vila de São Vicente, litoral paulista. A Ilha da Cotinga é o marco zero do litoral do Paraná. Os colonos portugueses viviam na ilha por medo dos índios carijós que viviam no continente. Foi lá que começou o nosso estado e esse patrimônio que deveria ser respeitado, foi abandonado”, completa.

Índios Guarani são guardiões do Templo

Em conjunto com a comunidade da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, os indígenas Mbyá Guarani, que vivem na Ilha da Cotinga fizeram um mutirão para limpar os degraus que levam até a igreja abandonada na Ilha. O trabalho duro foi compensado pela grande festa realizada pelos fiéis que participaram da missa neste domingo.

A igreja foi alvo de vândalos que roubaram o telhado, as janelas e tudo o que havia no local. Os indígenas que ali vivem tentaram coibir a ação dos vândalos, mas não tiveram sucesso. “Não consigo entender como alguém rouba da própria igreja. Se fizerem uma reforma na igreja, nós vamos avisar o padre se alguém tentar roubar novamente”, disse a Pajé da Aldeia Isulina da Silva.

Igreja foi demolida em 1699

Para construção da Igreja de São Benedito, no continente, foi preciso demolir a Igreja da Ilha da Cotinga, para utilização do material. A imagem da santa também foi levada para terra firme, pois só desta maneira seria configurado o governo local. Em 1993, a igreja de Nossa Senhora das Mercês foi reconstruída na ilha, mas não recebeu novamente a imagem original da Santa, que não existe mais.

Desconhecimento

A dona de casa Maria do Nascimento, de 64 anos, é parnanguara e nunca tinha visitado a igreja. A filha dela, Jucimara nascimento sequer sabia da existência da igreja. “Ouvimos no rádio sobre a missa e resolvemos participar. Estamos muito felizes porque além da missa, fizemos um passeio fascinante. Desde ir de barco até a ilha, passear por meio desta natureza e claro, comer um churrasco delicioso. Foi um dia maravilhoso”, disse.

Padre indiano faz sucesso em Paranaguá

As missas celebradas pelo Padre Bino, na igreja de Nossa Senhora dos Navegantes tem feito grande sucesso em Paranaguá. As missas duram quase três horas e tem atraído multidões. O carisma do Padre, que nasceu na Índia e fala com sotaque carregado, não conquistou apenas os parnanguras, mas também aos curitibanos, que lotam de dois a três ônibus para descer ao litoral acompanhar a missa celebrado pelo padre, que é realizada uma vez por mês.

Melissa Xavier, de 37 anos, é uma das responsáveis pela quantidade de visitantes da capital. Ele convida seus amigos para a missa e freta uma van para trazer as pessoas em todas as missas. “Sou uma missionária. Muitas pessoas que levei a missa de cura e libertação realizada pelo Padre Bino receberam milagres curaram feridas que carregavam em suas vidas”, disse.

A reportagem perguntou ao padre sobre o sucesso que ele vem fazendo na cidade, mas ele não quis falar sobre isso. “Não quero que as pessoas me vejam como um ícone, sou uma pessoa comum, vim de um país onde a maioria das pessoas é da religião Hindu e quero apenas contribuir para o estabelecimento do Reino de Deus no local em que fui chamado”, disse padre Bino.

fonte ; gazetadopovo-Oswaldo Eustaquio

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